Slugs (1988)

Acredito que nem mesmo Freud seria capaz de explicar o meu fascínio por filmes imbecis do calibre de Slugs. Aliás, se você é do tipo que sai para alugar um filme e, por falta de opção, acaba escolhendo um sobre lesmas mutantes assassinas, parabéns! Você faz parte de um seleto grupo de debilóides! Agora, se é louco o suficiente como eu para ter este filme em sua coleção, sinto muito, não há salvação para você. Pelo menos, terá o privilégio de se mijar de rir com essa porcaria até sua bexiga pedir arrego.

Como entreguei logo de cara, Slugs é um longa sobre lesmas mutantes assassinas. Pois é, esses pobres seres gosmentos, em 1988, se juntaram ao time de animais sangüinários do Cinema, que também inclui ratos, gatos, cachorros, leões, coelhos, tubarões, aranhas, baratas, borboletas, pássaros, sapos, cobras, crocodilos, abelhas, formigas gigantes e, mais recentemente, ovelhas. No entanto, enquanto boa parte (eu disse boa parte!) dos filmes protagonizados pelos bichinhos acima não se leva a sério, o diretor espanhol Juan Piquer Simón parece acreditar que está realizando uma verdadeira obra-prima do horror, além de achar que o público seria idiota a ponto de pensar que o que ocorre na tela é algo plausível. Tudo bem, existe muita coisa absurda quando se trata de filmes de horror, porém, ou o negócio descamba para a palhaçada assumida, ou o espectador precisa ao menos acreditar que, dentro do universo da história, o roteiro funciona de alguma forma. Em 1963, Alfred Hitchcock conseguiu transformar pássaros em criaturas assassinas de maneira bem realista. Vinte anos depois, Lewis Teague fez o mesmo com um cão São Bernardo. Agora, esperar que eu engula mongolóides pessoas histéricas sendo atacadas por lesmas já é pedir demais!

Para variar, acabei me alongando demais na introdução, mas permita-me fazer mais uma observação antes de começar a analisar essa baboseira. Se você sequer assistiu ao filme e já está achando tudo isso ridículo, saiba que o argumento não saiu da cabeça de Simón. Slugs é baseado em um livro de um tal de Shaun Hutson. Com uma rápida passada no Google, encontrei o site do cara e descobri que o infeliz tem mais de 50 livros publicados sob seu próprio nome e também sob oito pseudônimos diferentes! Não sei se suas outras obras são de qualidade, porém só o fato de ele ter concebido uma história sobre lesmas assassinas já não o torna um dos meus favoritos. Ainda assim, se formos comparar, Simón acaba ficando com o status de retardado mental por ter decidido adaptar o livro para as telas.

Bem, chega de lero-lero. Slugs tem início no meio de um lago, com um casal em um barquinho. Aparentemente, o cara (um bundão chamado Wayne) levou a moça para pescar e preferiu brincar com a vara ao invés de pegar a gatinha. O rapaz permanece com os pés na água e não demora muito para ser puxado para o fundo. Como ele não volta à superfície, a moça passa a achar que aquilo não passa de uma brincadeira de mau gosto (clichê total) e insiste para que ele pare, até que a água começa a borbulhar, ficando vermelha, e ela grita. Entram os créditos de abertura. Aí, você pára e pensa: "será que estou assistindo ao filme certo?". Sim, está. Logo, você descobrirá que as lesmas de Slugs são exímias nadadoras, além de fortes o bastante para puxar um adulto para dentro d'água com a boca (a única explicação que encontrei, afinal, como vocês sabem, lesmas não possuem membros) e mantê-lo submerso. Assim que você se recuperar do seu primeiro ataque de riso, aperte o play e agüente firme!

Após os créditos, conhecemos a próxima vítima das nojentinhas, um sem-teto que procura abrigo em uma casa abandonada. Assim que o coitado morre (a segunda morte ridícula do filme), a polícia é ativada e entra em cena o herói Mike Brady (Michael Garfield, que nunca fez mais nada interessante; hum... por que será?), um inspetor do Departamendo de Saúde que é chamado para ajudar na investigação. O galã dá uma breve conferida no local e constata que o mendigo fora morto por pequenos animais, provavelmente ratos (será que ele assistiu a Ratos - A Noite do Terror, de Bruno Mattei?). O xerife ("interpretado" por John Battaglia, que passa o filme inteiro com a mesma cara de cu), obviamente, acha essa teoria um absurdo, então nosso intrépido funcionário público inicia sua própria investigação com o auxílio do amigo Don Palmer (Philip MacHale), que trabalha nos esgotos, e um cientista inglês (!!!) com um sotaque fake horroroso especialista em lesmas (que conveniente!) chamado John Foley (Santiago Álvarez).

O que ocorre durante o resto do filme é uma sucessão de cenas involuntariamente hilárias, para nenhum fã de tosqueiras botar defeito. Uma das mais nonsense é aquela em que um velho jardineiro coloca sua luva sem perceber que uma lesma se entocara lá dentro. Vamos enumerar os absurdos: 1) ele não sente que a luva está mais pesada do que de costume; 2) ele não nota que há alguma coisa dentro dela; 3) a luva se encaixa em sua mão perfeitamente (!!!); 4) a lesma morde sua mão, mas ele não consegue tirar a luva (!!!!!!), o que me leva a acreditar que esses seres pegajosos possuem mesmo superforça e algumas mãos escondidas sob aquela meleca toda; 5) ele soca a parede, soca a mesa, soca o chão e a lesma não morre (!!!!!!!!!); 6) ao notar que seu esforço para se livrar da luva é inútil, ele decide cortar a própria mão com um machado! Porra! Fico imaginando quanta coisa Simón e sua equipe de roteiristas (é, o filme foi escrito a 6 mãos!) fumaram/cheiraram/injetaram/ingeriram para elaborar uma cena dessas. Aliás, os produtores, os câmeras, enfim, toda a equipe, deviam estar morrendo de fome ou com muito ácido na cabeça para aceitar participar dessa bomba. Ah, há também o clichê do casalzinho que sai para trepar e acaba morto de maneira brutal. Se você não nasceu ontem, sabe muito bem que transar em filmes de horror não é uma idéia das mais brilhantes. Porém, a cena mais imbecil do longa, que merece ser vista e revista, é... bem, prefiro nem descrever. Clique aqui e veja.

Preciso dizer mais?

Se você chegou até aqui, deve estar morrendo de curiosidade para assistir essa bagaceira, certo? Infelizmente, Slugs é um filme difícil de encontrar por aí. Se você costuma usar o eMule ou baixar filmes via torrent, há cópias em boa qualidade circulando na internet. Se não, garimpe velhas locadoras e sebos em busca do VHS. Depois, junte alguns amigos, tome uns goles e morra de rir com esse lixo.

Slugs (Slugs, Muerte Viscosa, EUA/Espanha, 1988)

Duração:
92 minutos

Diretor:
Juan Piquer Simón

Argumento:
Baseado no livro de Shaun Hutson; roteiro: Juan Piquer Simón; José Antonio Escrivá; Ron Gantman

Edição:
Antonio Gimeno; Richard E. Rabjohn;
fotografia: Julio Bragado

Música:
Não creditada

Elenco: Michael Garfield (Mike Brady); Kim Terry (Kim Brady); Philip MacHale (Don Palmer); Alicia Moro (Maureen Watson); Santiago Álvarez (John Foley); Concha Cuetos (Maria Palmer); John Battaglia (Xerife Reese); Emilio Linder (David Watson); Kris Mann (Bobby Talbot); Kari Rose (Donna Moss); Manuel de Blas (Prefeito Eaton); Andy Alsup (Dobbs); Frank Braña (Frank Phillips); Stan Schwartz (Ron Bell); Juan Maján (Harold Morris); Lucia Prado (Jean Morris)

1 Manifeste-se!:

Pilar Valente 20 de maio de 2009 às 19:12  

Adorei seu layout e o blog como um todo, mas a letra tem que ser tão pequenininha? Não consegui ler tudo assim =/

Que bom que gostou, volte lá no Borrão sempre que quiser =]

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Sobre Esta Coisa

Espaço de um estudante de Literatura completamente sem noção e apaixonado por Cinema.

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Órfão desde que sua mãe o abandonou, aos 2 anos, e seu pai, morto em uma tentativa de assalto, Miguel Bittencourt não se deixou abater pelas dificuldades da vida e se tornou um escritor de sucesso. Em uma madrugada, após comemorar o término de seu quarto romance, acabou salvando, de maneira um tanto desajeitada, uma moça que jamais havia visto antes de um possível estupro. Agora, seu corpo está passando por mudanças extraordinárias e os homens responsáveis pelo ataque o estão acompanhando de perto, com uma história absurda sobre uma trégua secular entre criaturas fantásticas e sanguinárias. Aparentemente, sua família há muito esquecida é o centro disso tudo e, agora, Miguel tem nas mãos a chance de uma vingança inusitada. www.leiadanielcoelho.com.br